"Os presos contam os dias
eu as horas
nesta prisão maior onde um olhar
ficou boiando
e uma voz um som de passos
perseguidos
na sombra perseguindo a segurança
fugidia
Na cidade que amo e a sós comigo
é talvez só futuro ou já saudade
com alma bem nascida entre o
fragor de máquinas, cimento e energia
atômica indefeso entre irmãos de cárcere
demando
a voz que foge os irmãos que não
vejo
o brando olhar que guarda o meu
desejo
e só consigo
ver o gomoso arrastar das horas e
das horas
tantas horas
à baioneta marcadas por uma
sentinela
aos quatro cantos da janela
gradeada
do dia-
a-dia onde não há
mais nada
Que nada são os dias e os anos
para um tão grande amor que vou
pintando
com o próprio sangue os meus e
teus enganos
que há de nascer que há de florir
que há de
e há de e há de
quando?"
(Mário Dionísio)
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