"Daqui a nada fica de noite e nós ainda
não vimos o dia
Não vimos o amanhecer
Não deixámos que entrasse no nosso peito
e na nossa fé
Daqui a nada fica de noite
Se calhar muito antes de vermos
anoitecer
Com este olhos mortais
Que se prendem ao que não é essencial
Que se ofuscam ante as evidências
Que se negam às intuições
Daqui a nada fica de noite
Se calhar anoiteceu no dia em perdemos a
esperança
Se calhar ao duvidar acelerámos a noite
Que tudo engole
Que é derradeira
Daqui a nada fica de noite
E nós andámos sem andar
Olhámos mas não vimos nada
Falámos mas não conversámos
Daqui a nada fica de noite
E tanta vida passou pela janela
E nós nem afastámos o cortinado
Pelo menos para a ver
Pelo menos para a sentir entrar pelos
nossos pulmões
E enchê-los … enchê-los … enchê-los …
Como a respirar a vida primordial
Como se ela passasse e se ligasse de
novo a nós
Como se os olhos vissem pela vez
primeira
Como se os sons fossem aprendidos de
novo
Como se a pele voltasse a sentir cada
carícia
Daqui a nada fica de noite
E Nós?"
(Marta Mondragão)
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