31 outubro 2012

O "meu" jardim...


E por vezes não é preciso ir muito longe para aproveitar o Outono...

O "meu" jardim, é o jardim da Specola, que posso apreciar todos os dias, e que nesta altura do ano está com umas bonitas cores...






"Destino..."



"Quem disse à estrela o caminho 
Que ela há-de seguir no céu? 
A fabricar o seu ninho 
Como é que a ave aprendeu? 
Quem diz à planta «Florece!» 
E ao mudo verme que tece 
Sua mortalha de seda 
Os fios quem lhos enreda? 

Ensinou alguém à abelha 
Que no prado anda a zumbir 
Se à flor branca ou à vermelha 
O seu mel há-de ir pedir? 
Que eras tu meu ser, querida, 
Teus olhos a minha vida, 
Teu amor todo o meu bem... 
Ai!, não mo disse ninguém. 

Como a abelha corre ao prado, 
Como no céu gira a estrela, 
Como a todo o ente o seu fado 
Por instinto se revela, 
Eu no teu seio divino . 
Vim cumprir o meu destino... 
Vim, que em ti só sei viver, 
Só por ti posso morrer." 

(Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas')

30 outubro 2012

"Chove. Há silêncio..."


"Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva 
Não faz ruído senão com sossego. 
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva 
Do que não sabe, o sentimento é cego. 
Chove. Meu ser (quem sou) renego... 


Tão calma é a chuva que se solta no ar 
(Nem parece de nuvens) que parece 
Que não é chuva, mas um sussurrar 
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece. 
Chove. Nada apetece... 

Não paira vento, não há céu que eu sinta. 
Chove longínqua e indistintamente, 
Como uma coisa certa que nos minta, 
Como um grande desejo que nos mente. 
Chove. Nada em mim sente... "

(Fernando Pessoa)

Viagem ao mundo dos Gnomos...



... ou melhor, viagem ao fascinante mundo dos fungos.

Mas, como na minha cabeça, cogumelos e gnomos estão intimamente ligados, pois enquanto me delicio a tirar fotos aos cogumelos, vem-me  à mente desenhos animados  da infância onde gnomos viviam em casas, que eram cogumelos. :-)







29 outubro 2012

"Beleza..."

(ainda as "Folhas Caídas...")


"Vem do amor a Beleza, 
Como a luz vem da chama. 
É lei da natureza: 
Queres ser bela? - ama. 

Formas de encantar, 
Na tela o pincel 
As pode pintar; 
No bronze o buril 
As sabe gravar; 
E estátua gentil 
Fazer o cinzel 
Da pedra mais dura... 
Mas Beleza é isso? - Não; só formosura. 

Sorrindo entre dores 
Ao filho que adora 
Inda antes de o ver 
- Qual sorri a aurora 
Chorando nas flores 
Que estão por nascer – 
A mãe é a mais bela das obras de Deus. 
Se ela ama! - O mais puro do fogo dos céus 
Lhe ateia essa chama de luz cristalina: 

É a luz divina 
Que nunca mudou, 
É luz... é a Beleza 
Em toda a pureza 
Que Deus a criou."

(Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas')

"Toca-me onde me dói..."


"Toca-me onde me dói e verás
uma flor a abrir-se lentamente
sobre a pele, a maravilha nunca
adivinhada de um mistério. Esta

é a tua vez de o desvendares -
paixão é uma palavra demasiado
antiga no meu corpo, já não sei a
última vez, a única vez. Toca-me

por isso devagar, não me lembro
da primavera que fez nascer a
doença sobre a ferida, não sinto
o recorte da cicatriz que o tempo

pousou nela. Agora chama-me ao
teu peito com as mãos, tal como a
chuva chama pelos narcisos sem

cessar, ano após ano; diz o meu
nome com os dedos a serem rios
que latejam no coração adormecido

de uma aldeia. Não adivinhes -
lá, onde me doer, vou recordar-me."


(Maria do Rosário Pedreira)

Depois da chuva...



Foi um daqueles fins de semana bem caseiros, a ouvir a chuva lá fora...
Daqueles que só apetece, um bom livro, uma bebida quente e lá está, ouvir a chuva!
Além de aproveitar para ler, aproveitei para fazer algumas arrumações e trabalhar um pouco.
Mas como não é fim de semana sem um passeio, na companhia da máquina fotográfica, ainda consegui passear, aproveitando o intervalo da chuva e os benefícios da mesma...







E a Bianca descobriu os benefícios de um cobertor...


28 outubro 2012

"Folhas Caídas..." - a exposição

E no passado sábado (27 Outubro), foi assim, no mercado de Montemor-o-Novo, o início da exposição "Folhas Caídas...".

Todas as fotos de filipe's glance.








"Os cinco sentidos..."

(ainda as "Folhas Caídas...")




"São belas - bem o sei, essas estrelas, 
Mil cores - divinais têm essas flores; 
Mas eu não tenho, amor, olhos para elas: 
      Em toda a natureza 
      Não vejo outra beleza 
      Senão a ti - a ti! 

Divina - ai! sim, será a voz que afina 
Saudosa - na ramagem densa, umbrosa. 
será; mas eu do rouxinol que trina 
      Não oiço a melodia, 
      Nem sinto outra harmonia 
      Senão a ti - a ti! 

Respira - n'aura que entre as flores gira, 
Celeste - incenso de perfume agreste, 
Sei... não sinto: minha alma não aspira, 
      Não percebe, não toma 
      Senão o doce aroma 
      Que vem de ti - de ti! 

Formosos - são os pomos saborosos, 
É um mimo - de néctar o racimo: 
E eu tenho fome e sede... sequiosos, 
      Famintos meus desejos 
      Estão... mas é de beijos, 
      É só de ti - de ti! 

Macia - deve a relva luzidia 
Do leito - ser por certo em que me deito. 
Mas quem, ao pé de ti, quem poderia 
      Sentir outras carícias, 
      Tocar noutras delícias 
      Senão em ti! - em ti! 

A ti! ai, a ti só os meus sentidos 
      Todos num confundidos, 
      Sentem, ouvem, respiram; 
      Em ti, por ti deliram. 
      Em ti a minha sorte, 
      A minha vida em ti; 
      E quando venha a morte, 
      Será morrer por ti." 

(Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas')

"Trocáramos as cartas do começo..."



"Trocáramos as cartas do começo - alegrias tão
frágeis, mas tão fundas, de quem mal se conhece
e já se amam; todo um inverno, diante das palavras,
o movimento dos pássaros no interior dos olhos,
o lume das estrelas na ponta dos dedos. De um


encontro tão breve é sempre fácil esquecer o que
nunca se viu. E, nessa tarde, enquanto te escutava,
soube que a memória era um espelho partido -


porque ler-te era uma coisa, mas ouvir-te era outra; e
o rosto que espreitara do papel fora eu que o desenhara;
e a assinatura ao fundo da página era o nome de uma
outra vida que eu tecera - como se na tua boca,


nesse tempo, falassem duas vozes desencontradas."

(Maria do Rosário Pedreira)

27 outubro 2012

"Não és tu!"



"Era assim, tinha esse olhar, 
A mesma graça, o mesmo ar, 
Corava da mesma cor, 
Aquela visão que eu vi 
Quando eu sonhava de amor, 
Quando em sonhos me perdi. 

Toda assim; o porte altivo, 
O semblante pensativo, 
E uma suave tristeza 
Que por toda ela descia 
Como um véu que lhe envolvia, 
Que lhe adoçava a beleza. 

Era assim; o seu falar, 
Ingénuo e quase vulgar, 
Tinha o poder da razão 
Que penetra, não seduz; 
Não era fogo, era luz 
Que mandava ao coração. 

Nos olhos tinha esse lume, 
No seio o mesmo perfume , 
Um cheiro a rosas celestes, 
Rosas brancas, puras, finas, 
Viçosas como boninas, 
Singelas sem ser agrestes. 

Mas não és tu... ai!, não és: 
Toda a ilusão se desfez. 
Não és aquela que eu vi, 
Não és a mesma visão, 
Que essa tinha coração, 
Tinha, que eu bem lho senti." 

(Almeida Garrett, in 'Folhas Caídas')

26 outubro 2012

"Folhas Caídas..."


A partir de sábado - 27 Outubro - e até ao final de Novembro, quem passar pelo Mercado de Montemor-o-Novo (Portugal) pode ir espreitar a minha exposição de fotografia, intitulada “Folhas Caídas...”, no âmbito do Projecto “Mostre-se - Fotografias em Rede” (Rede de Cidadania de Montemor-o-Novo).

Como dizia o poeta Almeida Garret... ”Antes que venha o Inverno e disperse ao vento essas folhas de poesia que por ai caíram, vamos escolher uma ou outra que valha a pena conservar, ainda que não seja senão para memória”...
Com esta ideia, recolheu no livro intitulado “Folhas Caídas” alguns desses poemas que valiam a pena!

Todos os anos no Outono, também eu sinto a necessidade de captar com as minhas lentes algumas imagens de folhas caídas, para conservar...
Achei interessante escolher algumas dessas imagens que fui captando nos meus “Passeios de Outono...”, aqui por Florença, em anos anteriores. Esperando que valha a pena...
E ainda associei a estas minhas “Folhas Caídas”... os títulos de algumas das poesias do referido poeta...


"Beleza..."

"Quando eu sonhava..."

"Adeus!"

"Aquela Noite!"

"Os cinco sentidos..."

"O álbum..."

"Saudades..."

"O anjo caído..."

"Os exilados..."

"Solidão"

"Destino..."

"Não és tu..."

"Sina..."

"Gozo e dor.."

"Voz e Aroma..."

25 outubro 2012

"Velhas Árvores..."


"Olha estas velhas árvores, mais belas 
Do que as árvores novas, mais amigas: 
Tanto mais belas quanto mais antigas, 
Vencedoras da idade e das procelas... 

O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas 
Vivem, livres de fomes e fadigas; 
E em seus galhos abrigam-se as cantigas 
E os amores das aves tagarelas. 

Não choremos, amigo, a mocidade! 
Envelheçamos rindo! envelheçamos 
Como as árvores fortes envelhecem: 

Na glória da alegria e da bondade, 
Agasalhando os pássaros nos ramos, 
Dando sombra e consolo aos que padecem!"

(Olavo Bilac)