"Trocáramos as cartas do começo - alegrias tão
frágeis, mas tão fundas, de quem mal se conhece
e já se amam; todo um inverno, diante das palavras,
o movimento dos pássaros no interior dos olhos,
o lume das estrelas na ponta dos dedos. De um
encontro tão breve é sempre fácil esquecer o que
nunca se viu. E, nessa tarde, enquanto te escutava,
soube que a memória era um espelho partido -
porque ler-te era uma coisa, mas ouvir-te era outra; e
o rosto que espreitara do papel fora eu que o desenhara;
e a assinatura ao fundo da página era o nome de uma
outra vida que eu tecera - como se na tua boca,
nesse tempo, falassem duas vozes desencontradas."
(Maria do Rosário Pedreira)
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