Finalmente Veneza, era o que eu pensava há uns dias atrás, enquanto
preparava a viagem a esta única e “Sereníssima” cidade, isto porque desde
sempre, foi uma cidade que fez parte do meu imaginário e fazia igualmente parte
da lista de locais a visitar... E foi então, com muita curiosidade, que partimos para Veneza.
A chegada foi como eu previa, uma multidão impressionante - na estação, junto aos locais de
informação e nos locais para apanhar os vaporetti
- o que me fez pensar “Será que isto vai ser sempre assim?”...
No primeiro dia, limitámo-nos a deambular, até chegar às zonas
mais movimentadas, às atracções principais, a Piazza San Marco, o coração da cidade e que exalta todo o seu
esplendor, e a agitada Ponte di Rialto
(ponto de contemplação do Grande Canal), parando em cada ponte, apreciando cada
gôndola que passava, fotografando cada pormenor.
E mais uma vez, sentimos a impressionante nuvem de pessoas, que se
concentrava nestas zonas centrais e consideradas mais atractivas, o que não me
agradou particularmente. Mas, apesar da má disposição instalada (devido à
multidão – Não, eu não queria Veneza só para mim!), lá consegui ir admirando
pequenos pormenores em cada edifício, em cada ruela, em cada praça (Campo – designação veneziana para todas
as praças, excepto a de San Marco),
em cada canal...E a cada passo deste nosso primeiro giro, constatar que Veneza, é um autêntico labirinto de ruas e
ruelas estreitas (Calle e Colleta), além dos labirintos de água,
os famosos canais...
No caminho inverso ao final do dia, ou seja, no caminho de
regresso ao Hotel (mais propriamente um Bed
& Breakfeast no sestiero
Castello) e na busca de um local para jantar, fomos constatando que a cidade
com o aproximar da noite, se ia transformando, não só numa cidade pouco
iluminada, o que a torna de alguma
forma ainda mais misteriosa, mas também numa cidade quase deserta, com as lojas
e monumentos fechados, as centenas de turistas, que durante o dia, povoam ruas,
praças e gôndolas, à noite simplesmente desaparecem.
Devo dizer, estava uma noite fria, mas apesar disso, Veneza passou
a ter outro encanto, mais silenciosa e harmoniosa...
No segundo dia e munidos de um bom mapa, para melhor perceber “a
cidade labirinto”, organizámos o nosso dia com o objectivo de conhecer um pouco
do sestiero Castello, onde estávamos
instalados, assim como o que se encontra mais próximo, Cannaregio. Veneza é
dividida em seis sestieri ou bairros,
os antigos distritos administrativos. Podemos, igualmente, encontrar estes seis sestieri, representados simbolicamente, no ferro das gôndolas.
Mas, também convêm salientar, que nem com mapa, é muito fácil a orientação
por “ruas e ruelas”...No entanto, se nos perdermos, basta seguir as placas
amarelas que indicam as atracções principais (Rialto e San Marco), pois
todos os caminhos vão lá dar...
(O mais desagradável é quando nos perdemos em
busca do próprio hotel!)
Neste segundo dia, queríamos então conhecer estes sestieri, menos atractivos aos turistas,
mas com uma personalidade única, aos quais pretendíamos dedicar alguma atenção.
Sestieri mais genuínos, como sugeriam
os livros, nos quais podemos observar edifícios com fachadas mais simples, até
mais degradas. Onde podemos encontrar roupa estendida de um lado ao outro do
canal, e ainda o vendedor de legumes e frutas, que passa de canal em canal, tal
como em algumas terras do meu Alentejo, sendo que a única diferença é o meio de
transporte.
Ao visitar Cannaregio, pretendíamos
igualmente conhecer o Ghetto, o mais
antigo de toda a Europa. Onde conseguimos encontrar alguns símbolos e marcas de
outros tempos...Assim como, provar deliciosos doces hebraicos.
Caminhando, mais uma vez, por entre as labirínticas ruas, ficámos
com uma boa ideia destes autênticos sestieri
e passamos para Santa Croce e San Polo, onde começámos a encontrar aprazíveis
lojas/ateliers de máscaras. E, onde dois adultos que experimentavam máscaras, sonhavam
e imaginavam as festas e bailes de
outras épocas.
Sempre apreciando cada pormenor de cada espaço percorrido,
facilmente chegámos a Dorsoduro. Como podem ver, esta é uma
cidade que se visita muito facilmente a pé, sim, apesar de toda a água, é
possível a descoberta da sereníssima, sem recorrer aos usuais meios de
transporte. Claro que também recorremos aos vaporetti,
mas percorremos a cidade maioritariamente
a pé.
Dorsoduro foi, a região que mais me atraiu, calma, simples,
silenciosa e com uma “composição habitacional” um pouco mais ordenada. Até a
água dos canais possuía outra cor.
E foi aqui, que acidentalmente, descobrimos uma exposição de
fotografia “Through my Window” (fotografia
de Ahae), que se encontrava publicitada por toda a cidade, e que havíamos já pensado visitar. Aqui, no espaço
que anteriormente serviu para guardar barcos e mercadorias (zona Zattere), e que actualmente recebe
mostras de arte, terminámos o nosso segundo dia nesta encantadora e idealista
cidade.
No dia (o terceiro) que havíamos pensado regressar à parte movimentada
da cidade, para subir ao Campanile,
para contemplar uma maravilhosa vista e apreciar o conjunto de ilhas que
circundam Veneza, assim como passear entre canais, transportados por um
gondoleiro e as suas histórias. Foi o dia que São Pedro, resolveu mostrar como
é Veneza quando chove, quando chove e muito. Sendo possível observar, igualmente,
o nível dos canais a subir e descobrir uma Veneza cinzenta, fria e um pouco
desagradável...
Não conseguimos fazer o que havíamos planeado, mas continuamos a
passear, ainda que debaixo de chuva. O que nos levou a passar mais tempo a
visitar ateliers e a apreciar a arte de fabricar máscaras. Ainda para fugir um
pouco à chuva passámos algum tempo no Devil´s
Forest Pub, a degustar uma típica bebida veneziana - o Bellini, a falar de detalhes da nossa viagem, da cidade, da comida
(que é horrível!), da impossibilidade (na minha opinião) de viver numa cidade
como esta. Sim, uma encantadora e fantástica cidade, que nos faz viajar no
tempo e sonhar, mas que é apenas para admirar e passear por uns dias...
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